Creditas, Nubank, Xerpa e Quinto Andar são empresas brasileiras que figuram entre as 250 principais fintechs do mundo, de acordo com o CB Insights. Mas, você deve estar se perguntando o que o Quinto Andar, que é uma plataforma de imóveis, está fazendo nessa lista, não é?
É simples. Desde o ano passado, a startup oferece serviços financeiros como financiamento da reforma de imóveis e uma linha de crédito para corretores e imobiliárias. Isso é possibilitado pela chamada “Embedded Finance”, que é uma tendência crescente em empresas de todos os tipos.
Esse contexto vem sendo ainda mais acelerado pela pandemia de Covid-19, que trouxe à tona toda a necessidade de modernização e transformação do sistema financeiro.
Vimos pessoas que nunca haviam comprado em e-commerce usarem essa forma de consumo pela necessidade de ficar em casa. Assistimos a chegada do Pix e o fascínio pelo pagamento instantâneo cair no gosto popular. As transações se tornaram mais rápidas, digitais e seguras.
No texto de hoje, você vai entender como empresas de outros setores conseguem oferecer serviços financeiros dentro da sua solução, por que isso é feito e quais as vantagens que gera aos negócios. Siga a leitura!
O setor financeiro nunca esteve tão democrático quanto atualmente. Antigamente, transações financeiras, empréstimos e tudo relacionado a dinheiro costumava estar no monopólio dos grandes bancos, ou mesmo na informalidade.
Um grande exemplo disso é mostrado na pesquisa da BNamericas: 80% de todos os empréstimos de dinheiro no Brasil foram concentrados em cinco grandes bancos - até recentemente.
Pesquisas da venture capital Andreessen Horowitz também mostram que os bancos da América Latina possuem uma das margens de lucro mais altas do mundo. No México e no Brasil, por exemplo, o ROE (return of equity, métrica que indica a lucratividade dos bancos) dos bancos é de cerca de 18%, quase 5 vezes maior que na França ou EUA.
Isso significa que os produtos financeiros são extremamente caros na América Latina. O que abre margem para iniciativas alternativas oferecerem produtos mais acessíveis para o público.
O processo de modernização do sistema financeiro LATAM está atrasado em relação aos países desenvolvidos, mas caminha a passos significativos. Por exemplo, enquanto os pagamentos em tempo real chegaram ao Brasil apenas no ano passado, eles já eram realidade no Reino Unido há 10 anos - e em outros países como Austrália, China e EUA também já são amplamente difundidos. O mercado global dos pagamentos instantâneos é avaliado em USD 10.64 bilhões.
Além disso, desde que novas leis permitiram o surgimento das empresas conhecidas hoje como “fintechs”, abriu-se um leque de novas possibilidades nesse setor. Soluções digitais, inovadoras e disruptivas - como abrir uma conta pelo aplicativo com alguns toques - passaram a fazer parte da vida do brasileiro.
Dessa forma, não é difícil imaginar que o desenvolvimento das fintechs brasileiras está em uma ótima fase, descobrindo e explorando todo o potencial da tecnologia.
É uma mudança e tanto para um país que tem cerca de um terço da sua população ainda desbancarizada.
Hoje, ter acesso a um cartão de crédito, um empréstimo ou realizar transferências de dinheiro não está mais restrito a quem tem uma conta bancária.
E tudo isso está ultrapassando ainda mais os limites das empresas puramente financeiras, sejam elas bancos ou fintechs.
É aí que entra o “embedded finance”, tema do nosso post, que nada mais é que o desenvolvimento de soluções financeiras abarcadas em empresas cujo negócio central consiste em outros produtos. São empresas que desenvolveram suas próprias frentes financeiras embutidas em seu business.
Vamos contextualizar para ficar mais simples. Sabe, por exemplo, e-commerce de bens de consumo, varejo, aplicativos de delivery e outros serviços que possuem uma solução própria de pagamentos, carteira digital ou de crédito para o cliente? Esses são casos de embedded finance.
O core dessas empresas é outro, mas oferecem esse tipo de solução financeira como estratégia de diferenciação, não sendo a sua fonte de receita principal (apesar de também ser bem rentável).
Os produtos financeiros dessas empresas não são capitaneados por nenhum banco; eles são construídos a partir de um time próprio de tecnologia ou pela contratação de uma solução BaaS (explicaremos isso no final deste texto).
Agora, entenda mais sobre os players brasileiros do embedded finance.
Hoje, os maiores exemplos de players brasileiros que vêm incorporando o embedded finance são os grupos Magazine Luiza e Via Varejo, que oferecem carteiras digitais para os clientes, pela MagaluPay e banQI, respectivamente. São serviços completos, com pagamento de contas, depósitos, transferências - tudo 100% digital e gratuito. Sem deixar de mencionar o Mercado Livre, cujo braço financeiro Mercado Pago está conquistando uma grande proporção em quantidade de funcionalidades e usuários.
Também há o iFood que tem sua própria solução de pagamentos, e gigantes como Google e Apple, com suas carteiras digitais e sistema de pagamento por aproximação no Google Pay e Apple Pay.
Apesar de os maiores exemplos de finanças embedadas serem relacionados a oferecer contas digitais ou pagamentos, como mencionamos, existem outras formas de embedded finance, como é o caso do Quinto Andar, cuja solução de crédito também o torna participante do ecossistema financeiro.
Entre esse escopo de finanças embutidas em empresas, temos principalmente:
Agora você deve estar se perguntando: se esses players que oferecem algo relacionado a finanças não dependem disso para lucrar, por que investem nessa frente em seus negócios?
Vamos explicar no próximo tópico.
O embedded finance, além de ser mais uma fonte de renda para as empresas, gera um enorme diferencial competitivo e impulsiona a conquista de mais clientes - e sua consequente fidelização.
Imagine quanta inclusão essas soluções não proporcionam… Clientes desbancarizados ou sem crédito ganham maior poder aquisitivo, opções de crédito e parcelamento para adquirir produtos. Outros criam ainda mais afeição com a marca, por valorizarem uma solução sem burocracia para movimentação financeira. Há também os que são atraídos pela gratuidade da maioria desses serviços embedados pelas empresas. É prático, é conveniente, não gera nenhum ônus para o usuário.
Tudo isso fortalece a relação com o consumidor (seja ele pessoa física ou empresa) e com todo o ecossistema de parceiros - valorizando o core business por consequência.
Além de todos os benefícios para o cliente, a empresa também ganha algumas vantagens ao ter o controle sobre o seu sistema financeiro. A tendência é que ela gaste menos com a gestão dos recebimentos, tenha mais autonomia na tomada de decisão e maior controle de inadimplência.
Assim como qualquer tendência, o embedded finance também se insere em um contexto de transformação que vem moldando as práticas empresariais.
Desde antes da crise do Covid-19 - que certamente foi um catalisador, mas não isoladamente -, o Brasil e a América Latina como um todo vinham passado por um movimento de digitalização financeira e abertura no cenário econômico, como vamos detalhar a seguir.
Até pouco tempo atrás, a maioria dos bancos não tinha aplicativos com boa usabilidade - ou sequer tinham essa opção. Restava ao consumidor ter que se locomover até agências bancárias (e muitas vezes pegar filas) para abrir uma conta ou realizar movimentações financeiras.
Com a popularização dos smartphones e o fortalecimento da confiança no meio digital, as fintechs começaram a atrair como clientes pessoas cansadas do padrão bancário que era pouco prático e excludente.
Hoje, mais de 8 em cada 10 pessoas acessam a internet por meio de dispositivos móveis, segundo o report Data Stories (março/2021), produzido mensalmente pela Kantar IBOPE Media. Esse dado traduz que o acesso mobile é bastante representativo, com um aumento de 220% nos últimos 10 anos. Destaque, ainda, para os usuários exclusivos de aparelhos mobile para conexão: 24% da população.
Da população usuária da internet pelo smartphone em seu cotidiano, 55% realiza compras online no mobile e 74% possui método de pagamento de compras diretamente pelo smartphone.
Assim, tudo passou a ser feito pela telinha, o que impulsionou a aceitação de meios de pagamentos digitais no comércio em geral.
Com o passar do tempo criou-se essa iniciativa de constantemente aperfeiçoar a experiência de compra online, o que nos traz ao embedded finance como um dos principais caminhos incorporados pelos varejistas.
O mercado financeiro sempre foi extremamente fechado e é uma das indústrias com maior regulação em todo o mundo. Entretanto, visando a formalização de alguns setores da economia e a digitalização das transações (algo estratégico no combate à corrupção, sonegação e fraudes), os governos têm permitido novas iniciativas no setor financeiro, cenário que favoreceu o desenvolvimento de fintechs e o embutimento de soluções financeiras em diversos setores da economia.
O Brasil teve a aprovação do Open Banking em 2019, e somente agora em fevereiro de 2021 começou a valer. Na prática, o Open Banking facilitou o compartilhamento de dados de usuários bancários com todo o ecossistema financeiro (atrelado, é claro, ao consentimento do cliente). Antes, esses dados eram de posse exclusiva do banco que possuía a conta.
O intuito dessa abertura é facilitar a migração do usuário para provedores de serviços financeiros de sua escolha, tendo posse de seu histórico para agilizar esse processo, quando desejado.
O compartilhamento aberto vale tanto entre bancos quanto entre fintechs, corretoras, fundos de investimentos e players do embedded finance. Ou seja, entre todo o sistema financeiro legítimo.
Dessa forma, esse passo, que ainda está em seu estágio inicial, tende a impulsionar ainda mais a entrada de novos participantes no setor, algo extremamente favorável para o embedded finance.
O boom das fintechs de uns 5 anos para cá vem se transformando em um amadurecimento desse setor.
O relatório anual Fintech Deep Dive, publicado pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) com a consultoria PwC, em 2020, mostra que as fintechs aumentaram o faturamento, têm mais colaboradores e sobrevivem por um tempo maior.
A atuação delas também se tornou mais diversificada: o segmento de créditos, financiamentos e negociação de dívidas é o que atrai mais players (21%), seguido pelo de meios de pagamento (16% em 2020, contra 21% no ano anterior).
O restante se divide entre gestão financeira (9%), bancos digitais (9%) e tecnologias como Open Banking e Banking as a Service (7%).
Ao mesmo tempo que crescem em receita, as fintechs têm captado menos aportes, de acordo com o relatório. Constatou-se que cerca de 60% das empresas pesquisadas financiam suas iniciativas com capital dos próprios empreendedores.
Dentre as que receberam investimentos, 50% captaram até R$1 milhão, valor ligeiramente menor que na edição anterior da pesquisa. Cerca de um quarto (24%) das fintechs também afirmaram ter recebido investimentos internacionais (contra 30% em 2019).
O capital de risco e o corporate venture estão de olho nas oportunidades que o cenário econômico brasileiro cria para empresas de tecnologia do setor financeiro.
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Como vimos, existe uma imensa oportunidade para as soluções financeiras serem criadas de modo a penetrar cada vez mais em todos os níveis sociais e, além disso, serem altamente especializadas em nichos e resolverem dores específicas de seu público consumidor.
O cenário contribui para que a tecnologia financeira chegue a novos players através de leis de incentivo, open banking e da crescente digitalização de pagamentos em andamento no país.
O surgimento de novas startups também está sendo outra fonte inesgotável de geração de demanda por soluções financeiras B2B, nas quais a eficiência operacional é chave para o futuro. Isso é um prato cheio para o desenvolvimento de soluções de embedded finance voltadas a necessidades empresariais, como: gestão de folha de pagamento, programas de benefícios diferenciados, automação financeira, crédito empresarial, financiamento peer-to-peer, dentre diversas possibilidades.
Assim, as empresas que se propuserem a explorar esse caminho da personalização da tecnologia financeira podem ter enormes vantagens competitivas.
É a chamada construção “tailor-made”, nas quais há um profundo conhecimento de público para elaboração de plataformas e produtos “feitos sob medida” para a experiência do usuário.
Dessa forma, é de se esperar que o controle do mercado financeiro saia cada vez mais das grandes corporações financeiras para encontrar espaço em negócios nichados e amplamente conectados com seu público.
Análises indicam que está começando no setor financeiro algo comparável ao que ocorreu no setor de telecomunicações com a chegada da internet. Houve medo por parte das grandes empresas de mídia de perder o monopólio. Isso ocorreu gradualmente, e não de uma vez. Foram cerca de 10 anos até que essa perda se tornasse substancial.
Partindo desta analogia, não é imediatamente que os bancos vão perder todo seu lucro e clientes. Mas, muito provavelmente, um comportamento totalmente novo poderá ser constatado daqui a alguns anos ou uma década.
Os serviços white label das fintechs estão por trás de diversas soluções incorporadas por empresas. É o chamado Banking as a Service (BaaS), cujo produto financeiro leva o rótulo da empresa que o comprou.
A contratação de um BaaS é a forma mais rápida e inteligente de uma empresa abarcar um módulo financeiro em seus serviços sem precisar investir em um time próprio de tecnologia para a construção e constante atualização dessa infraestrutura.
Oferecer uma carteira digital, intermediação de pagamentos e outros tipos de produtos financeiros que vimos neste texto não é algo tão simples quanto escrever algumas linhas de código. Mesmo que o sistema financeiro esteja mais aberto para novos players, ele ainda é extremamente regulado e tem uma das legislações e política de compliance mais rígidas dentre todas as atividades econômicas existentes.
Por isso, se a sua empresa está pensando em abrir essa frente, vale pesar o custo de desenvolver isso in house ou contratar fintechs especializadas e que tenham soluções “as a service”, que você pode incorporar diretamente no seu sistema, sem se preocupar com todas as demandas de manutenção e segurança.
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