Um dos mandamentos mais importantes dos bons programadores pode ser resumido em três letras: DRY (Don’t Repeat Yourself), do inglês, "não se repita". Em vez de re-escrever um bloco de código inteiro, mudando só algumas variáveis, por que não transformá-lo numa função 100% reutilizável?
Esse preceito da não repetição é a base dos aplicativos de automação, que cuidam de executar ações em dispositivos ou serviços conectados quando gatilhos são acionados. Tudo isso sem interferência humana ou qualquer necessidade de escrever código, o que poupa tempo e dinheiro.
Eles podem ser configurados, por exemplo, para automaticamente ativar o modo silencioso do seu smartphone quando você chega a um local, armazenar os anexos recebidos no Gmail numa pasta do Dropbox ou logar os pagamentos que sua empresa processa pela iugu numa planilha do Google Sheets.
No grupo de softwares de fácil utilização, voltados para o consumidor final, o IFTTT (If This Then That) é o mais famoso. Mas você também pode encontrar soluções de automação para empresas, maiores e mais complexas, como o Zapier, e até voltadas para o mercado brasileiro, como a Pluga.
Conversamos com Yan Cantuaria, responsável pelo marketing da Pluga. Ele falou sobre as vantagens do seu hub de ferramentas web frente à concorrência para o empreendedor brasileiro, além dos planos da empresa de conquistar não só o mercado nacional, mas o da América Latina.
Criado em dezembro de 2010 em San Francisco, na Califórnia, o If This Then That tem apps para dispositivos com Android e iOS, além de funcionar em navegadores. Na sua última rodada de financiamento, em agosto de 2014, arrecadou US$ 30 milhões.
Além de contar com os serviços que você provavelmente utiliza em seu smartphone (Facebook, Twitter, Evernote, Foursquare, Spotify, entre outros), o IFTTT já conquista os usuários no processo de onboarding ao oferecer uma grande variedade de “receitas” (como são chamadas as integrações) que podem ser implementadas simples e rapidamente.
Para quem vive onde os frutos da internet das coisas já estão mais maduros, o IFTTT é ainda mais útil. Existem aproximadamente 100 aparelhos conectados à internet, incluindo de monitoramento e segurança, que podem ser integrados a outros canais (serviços da web ou dispositivos).
Que tal automatizar o horário em que a porta da sua garagem é fechada diariamente? Ou pedir para seu alarme incêndio enviar um SMS para seu vizinho quando detectar uma emergência?
A gratuidade é outro ponto importante que garante a popularidade do IFTTT e mostra seu foco no consumidor final, o usuário comum de smartphone. Pelo menos por enquanto, não há planos premium — todos os canais podem ser explorados sem a necessidade de uma assinatura, e não há restrições para o número de receitas criadas ou utilizadas.
O Zapier também oferece um plano gratuito, mas limitado, pois só permite a uma conta criar ou usar 5 zaps (integrações) e executá-los 100 vezes ao mês. O usuário não pagante fica ainda sem acesso a “aplicativos premium” e impossibilitado de montar fluxos com múltiplos serviços, um grande diferencial lançado recentemente.
Isso porque este é um serviço de cunho profissional/empresarial, que não oferece integrações com aparelhos da internet das coisas, mas conta com plataformas como Jira, Basecamp, Unbounce, Salesforce — todas extremamente populares no mundo dos negócios.
No total, seu catálogo disponibiliza mais de 500 aplicativos. Além disso, levando em conta serviços também presentes no IFTTT, o Zapier oferece muito mais gatilhos e ações em suas integrações.
A companhia, que nasceu em outubro de 2012 em Mountain View, também na Califórnia, hoje tem mais de 600 mil usuários. E, falando em economizar tempo e dinheiro, suas tarefas automatizadas pouparam 9,7 milhões de horas de trabalho em 2014, segundo o próprio Zapier.
Reduzir o tempo que as pessoas gastam realizando tarefas repetitivas também é o objetivo da Pluga, um software de automação 100% brasileiro fundado em 2015, no Rio de Janeiro, e que está prestes a iniciar suas operações no Chile, mirando toda a América Latina.
Para o empreendedor brasileiro, a principal vantagem da Pluga sobre o Zapier é evidente — o catálogo com ferramentas nacionais. São elas: NFe.io, Nibo e diversos serviços de pagamentos online, incluindo nossa própria infraestrutura financeira.
Não só isso. “O Zapier é, sim, nosso maior benchmark, mas não é tão intuitivo quanto nós”, diz Yan Cantuaria, CMO da Pluga. “Uma pessoa com pouco conhecimento técnico talvez tenha problemas com ele.”
“Nós temos templates com variáveis pré-configuradas para facilitar as integrações”, algo similar às receitas do IFTTT. “Ao mesmo tempo, permitimos uma edição mais profunda dos dados transferidos de um serviço para o outro, caso necessário.”
Você deve ter percebido o foco da Pluga em tecnologia financeira, certo? Antes da fase atual, a startup se chamava Smartcoin e era voltada para pagamentos, com o diferencial de transacionar bitcoins. “Eram dois sócios com vontade de criar uma solução do gênero completa. Porém, várias empresas similares tinham nascido na época, incluindo a iugu, então percebemos que o mercado já era bem atendido”, conta Yan.
Uma das 12 ferramentas já disponíveis para integração no serviço, nossa plataforma de pagamentos pode ser conectada com os brasileiros NFe.io e Nibo, além de Google Sheets, Slack, MailChimp, Mandrill e Pipedrive.
Até o fim de março, a startup pretende oferecer mais cinco soluções, incluindo a de marketing digital RD Station.
Para decidir quais ferramentas entram em seu catálogo, a equipe combina um processo interno de análise de API, “para saber se um serviço é robusto o bastante para oferecer integrações”, e a demanda de mercado, medida pelos votos de usuários num ranking em sua página.
Depois de ser classificada como uma das “100 startups mais atraentes para grandes empresas líderes em inovação” pela Open Startups, a Pluga olha agora também para o Chile. A empresa carioca foi selecionada pela aceleradora Startup Chile para aprender sobre o ambiente de empreendedorismo na região e se expandir para a América Latina.